09
out / 23

Felicidade

por Daniel Perdomo

Vivemos em uma sociedade voltada para o consumo, essência do capitalismo, na qual somos constantemente assediados com a mensagem de que adquirir mais coisas levará à felicidade. Catalizadora e canalizadora dos desejos humanos, a estrutura de vendas das redes sociais consegue, com facilidade, nos convencer de que um produto novo – um carro do ano ou o iphone mais recente – nos trarão alegria duradoura e um conforto interno. No entanto, a verdade é que as coisas, por si mesmas, não trazem felicidade.

Por experiência, constatei que voltamos rapidamente ao nosso nível anímico de felicidade após um aumento de curta duração proporcionado pela compra de um produto. Ainda no início da minha vida adulta, notei que o entusiasmo ao adquirir algo é temporário, e que se pautarmos a nossa felicidade na incessante busca por mais e pela próxima aquisição, entraremos em um ciclo sem fim, nunca alcançando um sentimento real de satisfação (já que bens materiais são impermanentes).

Relacionando o escrito acima com o mercado financeiro, uma das discussões que tenho com os clientes é sobre aquilo que é suficiente e as formas de controlarmos a busca incessante por ter sempre mais. Em um caso real, o investidor de perfil ultraconservador possuía uma rentabilidade acumulada de 111,00% do CDI desde 2021 (ano de contratação da nossa assessoria), praticamente livre de impostos. Este resultado supera praticamente todos os benchmarks do mercado, mesmo os que não são conservadores:

  • Mais de 12% acima do IPCA.
  • Mais de 37% acima do IBOVESPA.
  • Mais de 32% acima do Dólar
  • Mais de 41% acima do Ouro
  • Mais de 17% acima do S&P 500.
  • Mais de 21% acima do IFIX

Leitura recomendada – “O jeito Harvard de ser feliz”, Shawn Achor.

No entanto, em uma das nossas conversas ele citou que, se conseguimos 111% do CDI com facilidade, livre de impostos, é sinal de que conseguiríamos muito mais e que, portanto, eu deveria fazer melhor o meu trabalho. Expliquei que os resultados não foram proporcionados com facilidade, mas por uma confluência de fatores – como alinhamento ao perfil do investidor, boa leitura do cenário e ausência da atuação dos vieses comportamentais que mitigam nosso poder de decidir de forma assertiva. Meus argumentos não convenceram e o investidor exigiu a inserção de renda variável no portfólio já que, supostamente, um membro da família dele estava ganhando muito mais que ele. 

As alterações foram feitas, os prós e contras foram explicados, e no primeiro mês tivemos resultados abaixo do CDI; no segundo mês, levemente negativos.

Qual foi a decisão do investidor? 

Com grande desconforto, optou por resgatar os ativos de renda variável e voltar para a renda fixa, para reencontrar a felicidade dentro do perfil de investimentos dele. Não preciso citar que depois os ativos subiram, mas, independentemente deste fato, considerei adequada a atitude de voltar às origens do portfólio.

Tenho certeza de que, desta forma, continuaremos a ter rentabilidades consistentes para o longo prazo, protegendo e evoluindo o patrimônio. 

Um dos perigos de nunca estarmos satisfeitos e termos a busca por mais como fonte de felicidade é a tendência de nos compararmos com os outros. O desejo de sermos superiores àqueles de nosso relacionamento pode levar a um constante sentimento de inadequação e, por conseguinte, ao sofrimento. A necessidade de comparação e validação externa aprofunda o vazio interior e o sentimento de que não estamos evoluindo – ainda que nossos resultados sejam acima da média e adequados para as nossas características.

Viver desta forma nos mantém em uma busca interminável por felicidade por meio externos, impedindo-nos de apreciar o momento presente e as alegrias simples da vida, como um almoço em família.

Em minha visão, o caminho para a verdadeira felicidade é viver uma vida de virtude, praticando qualidades como honestidade, coragem, justiça e autodisciplina. A felicidade não é restrita apenas à riqueza, fama ou indulgências, já que tudo isso pode não ser perene e, por vezes, pode estar fora do nosso controle. 

Ao mudarmos o foco do materialismo e do nosso semelhante para a busca por experiências relevantes, conexões verdadeiras com os outros e crescimento pessoal através da prática das virtudes, é possível descobrirmos as verdadeiras fontes de alegria, que levam a uma vida mais gratificante e significativa.

09/10/2023
Felicidade
Por Daniel Perdomo

Veja também

Ver todos Seta indicadora
Moeda Forte
Carta mensal

Moeda Forte...

por Daniel Perdomo
12/04/2024
Vícios & Virtudes
Carta mensal

Vícios & Virtudes...

por Daniel Perdomo
11/03/2024
Imagem do post Die Trying
Carta mensal

Die Trying...

por Daniel Perdomo
06/02/2024
Imagem do post Método
Carta mensal

Método...

por Daniel Perdomo
23/01/2024
Imagem do post Lições
Carta mensal

Lições...

por Daniel Perdomo
20/12/2023
Imagem do post 20 Erros
Carta mensal

20 Erros...

por Daniel Perdomo
17/11/2023
Imagem do post Felicidade
Carta mensal

Felicidade...

por Daniel Perdomo
09/10/2023
Imagem do post O Jogo Infinito
Carta mensal

O Jogo Infinito...

por Daniel Perdomo
12/09/2023
Imagem do post F=E-R
Carta mensal

F=E-R...

por Daniel Perdomo
01/08/2023
Ver todos Seta indicadora