Estamos todos frustrados com os recentes acontecimentos envolvendo uma grande varejista. Caso típico de desonestidade intelectual que culminou em informações incorretas nos balanços, com indícios de fraudes.
A honestidade é a base de uma relação saudável e profícua. Sem ela, os investidores não podem tomar boas decisões e a confiança no mercado é corroída, sendo difícil promover uma reparação. Como o nosso nicho é o mundo dos investimentos, trataremos da honestidade (ou a falta dela) sem nos enveredarmos por outros campos mais sensíveis.
Ser honesto refere-se à prática de ser transparente, verdadeiro e imparcial em TODOS os eventos e relações entre entes do mercado financeiro. Quando os profissionais possuem e demonstram integridade, é mais provável que pontes e conexões sólidas sejam estabelecidas com os investidores, criando um ambiente justo e sustentável.
Remetendo às Americanas, citadas no início do texto, a desonestidade teria vindo em forma de uma suposta manipulação de dados financeiros. Argumenta-se que teriam sido apresentadas informações falsas sobre o desempenho financeiro da empresa para influenciar o mercado. Alguns dizem que os gestores da empresa inflaram, artificialmente, os ganhos, subestimando os passivos (dívidas) para parecerem mais saudáveis financeiramente do que realmente são.
Investidores, diante da realidade distorcida sobre a saúde financeira da empresa, foram direcionados a tomarem más decisões.
Antes que bata a síndrome do vira-latas, fraudes contábeis não são exclusividade do Brasil:
Nos Estados Unidos, dentre outros casos, tivemos o escândalo da Enron Corporation. A empresa também inflou seus ganhos através de brechas contábeis e entidades fora do balanço para esconder dívidas de investidores e reguladores.
Como efeitos, o preço das ações da Enron (que atingiram o máximo de $ 90 por ação) despencou para menos de $ 1, levando à maior falência da história dos Estados Unidos na época – e vários executivos, incluindo o CEO Jeffrey Skilling e o presidente Kenneth Lay, foram condenados por fraude. O escândalo também envolveu a Arthur Andersen, empresa de auditoria da Enron.
(Semelhanças com o caso da varejista brasileira?)
O escândalo da Enron foi significativo e acarretou mudanças significativas na governança e regulamentação corporativa, incluindo a criação da Lei Sarbanes-Oxley, que estabeleceu requisitos mais rígidos para as demonstrações contábeis das empresas de capital aberto.
E por quê fraudes são frequentes, em várias localidades do planeta?
Porque existe algo em comum nestes diferentes locais: o ser humano!
A ganância e o desejo por poder estão enraizados na psique humana, e suas manifestações datam das primeiras civilizações, conforme estudamos nos livros de história no ensino médio.
Ao longo do tempo, indivíduos e grupos buscaram obter e reter riqueza e poder, às custas dos seus semelhantes.
Na sociedade egípcia, o poder era frequentemente mantido por um pequeno grupo de pessoas – os faraós – que detinham vasta riqueza e influência. Esses indivíduos usavam do poder para controlar recursos e manter suas posições de autoridade, muitas vezes por meio da força e da opressão. Gerando maior acumulação de riqueza e ainda mais poder.
Na Europa medieval, a busca de riqueza e poder era frequentemente associada à invasão de terras, às pilhagens e ao exercício do poder feudal.
Durante a Era das Navegações, as potências europeias buscaram ganhar riqueza e poder por meio da expansão colonial, estabelecendo impérios e explorando os recursos de suas colônias. Essa busca por riqueza e poder teve consequências significativas, incluindo a exploração e opressão dos povos colonizados e a disseminação da escravidão.
Nos tempos modernos, a busca por riqueza e poder assumiu uma nova forma, com o sequestro de corporações por indivíduos e pequenos grupos com intuito de acumularem riqueza, preencherem o vazio interior e alimentarem a vaidade com a sensação de poder e reconhecimento as custas da exploração de relações com pessoas e outras corporações hipossuficientes em termos informacionais.
Por experiência, sabemos que essa busca por poder e riqueza raramente é totalmente satisfeita, levando os indivíduos a buscarem constantemente mais, perpetuando os casos de fraudes ao longo do tempo.
E como os nossos portfólios reagiram ao evento das Americanas?
Pelos princípios que seguimos (diversificação e margem de segurança), os efeitos foram residuais, em fundos de crédito privado, demonstrando a resiliência e a consistência da nossa filosofia de investimentos. Contudo, a nossa insatisfação com o caso é plena e não residual.
No nosso escritório temos como premissas e práticas:
1 Declararmos quaisquer conflitos de interesses que possam suprimir a nossa imparcialidade.
2 Fornecermos informações íntegras aos nossos investidores.
3 Não utilizarmos informações privilegiadas para ganhos pessoais ou em prejuízo de nossos clientes.
4 Evitarmos comportamentos pessoais que possam comprometer a nossa imparcialidade e objetividade.
5 Mantermos elevados padrões de comportamento éticos, sendo signatários de programas de compliance.
6 Expurgarmos pessoas que demonstrem comportamentos antiéticos.
7 Sermos transparentes quanto ao comissionamento do nosso trabalho.
8 Apresentarmos todos os riscos envolvidos nas diferentes classes de ativos.
9 Evitarmos, a todo custo, práticas antiéticas ou ilegais.
10 Sermos responsáveis por nossas ações e pelos efeitos por elas ocasionados.
Portanto, diante das práticas citadas, o caso da empresa listada fere nossa essência, mas reforça a relevância do nosso escritório por sermos um contraponto a um sistema que prioriza o lucro de curto prazo em detrimento do comportamento ético.
Continuaremos a desenvolver uma cultura de integridade e honestidade no mercado de assessoria de investimentos, visando a preservação, a evolução patrimonial dos nossos clientes e a constituição de um ecossistema que atenda aos interesses de todos os investidores.