03
fev / 23

Desonestidade

por Daniel Perdomo

Estamos todos frustrados com os recentes acontecimentos envolvendo uma grande varejista. Caso típico de desonestidade intelectual que culminou em informações incorretas nos balanços, com indícios de fraudes.

A honestidade é a base de uma relação saudável e profícua. Sem ela, os investidores não podem tomar boas decisões e a confiança no mercado é corroída, sendo difícil promover uma reparação. Como o nosso nicho é o mundo dos investimentos, trataremos da honestidade (ou a falta dela) sem nos enveredarmos por outros campos mais sensíveis.

Ser honesto refere-se à prática de ser transparente, verdadeiro e imparcial em TODOS os eventos e relações entre entes do mercado financeiro. Quando os profissionais possuem e demonstram integridade, é mais provável que pontes e conexões sólidas sejam estabelecidas com os investidores, criando um ambiente justo e sustentável.

Remetendo às Americanas, citadas no início do texto, a desonestidade teria vindo em forma de uma suposta manipulação de dados financeiros. Argumenta-se que teriam sido apresentadas informações falsas sobre o desempenho financeiro da empresa para influenciar o mercado. Alguns dizem que os gestores da empresa inflaram, artificialmente, os ganhos, subestimando os passivos (dívidas) para parecerem mais saudáveis financeiramente do que realmente são.

Investidores, diante da realidade distorcida sobre a saúde financeira da empresa, foram direcionados a tomarem más decisões.

Antes que bata a síndrome do vira-latas, fraudes contábeis não são exclusividade do Brasil:

Nos Estados Unidos, dentre outros casos, tivemos o escândalo da Enron Corporation. A empresa também inflou seus ganhos através de brechas contábeis e entidades fora do balanço para esconder dívidas de investidores e reguladores.

Como efeitos, o preço das ações da Enron (que atingiram o máximo de $ 90 por ação) despencou para menos de $ 1, levando à maior falência da história dos Estados Unidos na época – e vários executivos, incluindo o CEO Jeffrey Skilling e o presidente Kenneth Lay, foram condenados por fraude. O escândalo também envolveu a Arthur Andersen, empresa de auditoria da Enron.

(Semelhanças com o caso da varejista brasileira?)

O escândalo da Enron foi significativo e acarretou mudanças significativas na governança e regulamentação corporativa, incluindo a criação da Lei Sarbanes-Oxley, que estabeleceu requisitos mais rígidos para as demonstrações contábeis das empresas de capital aberto.

E por quê fraudes são frequentes, em várias localidades do planeta?

Porque existe algo em comum nestes diferentes locais: o ser humano!

A ganância e o desejo por poder estão enraizados na psique humana, e suas manifestações datam das primeiras civilizações, conforme estudamos nos livros de história no ensino médio.

Ao longo do tempo, indivíduos e grupos buscaram obter e reter riqueza e poder, às custas dos seus semelhantes.

Na sociedade egípcia, o poder era frequentemente mantido por um pequeno grupo de pessoas – os faraós – que detinham vasta riqueza e influência. Esses indivíduos usavam do poder para controlar recursos e manter suas posições de autoridade, muitas vezes por meio da força e da opressão. Gerando maior acumulação de riqueza e ainda mais poder.

Na Europa medieval, a busca de riqueza e poder era frequentemente associada à invasão de terras, às pilhagens e ao exercício do poder feudal.

Durante a Era das Navegações, as potências europeias buscaram ganhar riqueza e poder por meio da expansão colonial, estabelecendo impérios e explorando os recursos de suas colônias. Essa busca por riqueza e poder teve consequências significativas, incluindo a exploração e opressão dos povos colonizados e a disseminação da escravidão.

Nos tempos modernos, a busca por riqueza e poder assumiu uma nova forma, com o sequestro de corporações por indivíduos e pequenos grupos com intuito de acumularem riqueza, preencherem o vazio interior e alimentarem a vaidade com a sensação de poder e reconhecimento as custas da exploração de relações com pessoas e outras corporações hipossuficientes em termos informacionais.

Por experiência, sabemos que essa busca por poder e riqueza raramente é totalmente satisfeita, levando os indivíduos a buscarem constantemente mais, perpetuando os casos de fraudes ao longo do tempo.

E como os nossos portfólios reagiram ao evento das Americanas?

Pelos princípios que seguimos (diversificação e margem de segurança), os efeitos foram residuais, em fundos de crédito privado, demonstrando a resiliência e a consistência da nossa filosofia de investimentos. Contudo, a nossa insatisfação com o caso é plena e não residual.

No nosso escritório temos como premissas e práticas:

1 Declararmos quaisquer conflitos de interesses que possam suprimir a nossa imparcialidade.

2 Fornecermos informações íntegras aos nossos investidores.

Não utilizarmos informações privilegiadas para ganhos pessoais ou em prejuízo de nossos clientes.

Evitarmos comportamentos pessoais que possam comprometer a nossa imparcialidade e objetividade.

Mantermos elevados padrões de comportamento éticos, sendo signatários de programas de compliance.

6 Expurgarmos pessoas que demonstrem comportamentos antiéticos.

Sermos transparentes quanto ao comissionamento do nosso trabalho.

8 Apresentarmos todos os riscos envolvidos nas diferentes classes de ativos.

9 Evitarmos, a todo custo, práticas antiéticas ou ilegais.

10 Sermos responsáveis por nossas ações e pelos efeitos por elas ocasionados.

Portanto, diante das práticas citadas, o caso da empresa listada fere nossa essência, mas reforça a relevância do nosso escritório por sermos um contraponto a um sistema que prioriza o lucro de curto prazo em detrimento do comportamento ético.

Continuaremos a desenvolver uma cultura de integridade e honestidade no mercado de assessoria de investimentos, visando a preservação, a evolução patrimonial dos nossos clientes e a constituição de um ecossistema que atenda aos interesses de todos os investidores.

03/02/2023
Desonestidade
Por Daniel Perdomo

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