Foi publicada uma reportagem no site Metrópoles na qual investidores de alguns escritórios, que utilizam a plataforma da XP, acionaram o poder judiciário denunciando profissionais por promoverem práticas abusivas que, no limite, ocasionaram prejuízos milionários em aplicações financeiras e o completo esvaziamento dos patrimônios investidos.
Conforme a notícia, há um caso no qual um investidor afirma que somente as taxas de corretagem cobradas sobre as operações ultrapassaram o seu patrimônio, de R$ 20 milhões, e que os investimentos eram vendidos com proteção (blindagem) para evitar perdas.
Não obstante, há relatos de assessores que passam informações erradas ou incompletas sobre os produtos de investimentos, prometendo lucros exorbitantes e incentivando aportes em papéis pouco vantajosos, mas que rendem maiores pagamentos em comissões.
Notadamente, com relação aos produtos citados, os investidores relataram forte pressão para investir em COE (Certificado de Operação Estruturada) e em operações alavancadas.
A alavancagem em investimentos refere-se ao uso de capital emprestado para ampliar a exposição a um ativo financeiro, na esperança de aumentar os ganhos. Em termos mais simples, é a prática de utilizar dinheiro emprestado para aumentar a capacidade de investir em ativos além do que seria possível com o capital próprio.
Ressaltaram também que os maiores prejuízos ocorreram nessas operações alavancadas, sendo que quanto maior a alavancagem maior o comissionamento para a empresa de investimentos.
Ainda que a reportagem tenha sido amplamente divulgada, os investidores do nosso escritório não ficaram alarmados com o tema, tendo em vista serem conhecedores da nossa filosofia de investimentos e da prática diária dos princípios que norteiam o escritório.
Nesse sentido, tecnicamente, produtos alavancados e COEs não passariam nas nossas premissas de alocação, que perpassam preservação patrimonial, margem de segurança, juros compostos e longo prazo – temas sobre os quais já escrevi em outras oportunidades, e basta um clique nos títulos para aprofundar.
Contudo, acredito que os questionamentos dos investidores superam, em muito, a questão técnica, já que a relação entre um assessor de investimentos e seu cliente envolve um elemento de hipossuficiência, que se refere à assimetria de poder ou conhecimento entre as partes. O assessor geralmente tem mais experiência, mais acesso e mais conhecimento sobre investimentos em comparação com o investidor, além de dominar a cadeia de incentivos do mercado financeiro (comissões), fazendo com que as denúncias coloquem sob o holofote os vícios e as virtudes humanas dentro do espectro dos predicados morais dos profissionais.
Ainda que uma pessoa possa aparentar ser idônea, com algumas qualidades morais admiráveis (cordialidade, respeito e justiça), essas características podem não resistir a certos desafios quando diante do interesse pessoal. O verdadeiro alinhamento aos clientes é uma qualidade rara e notável quando se manifesta, já que agir motivado por vícios e interesses pessoais é a média que percebemos nas relações interpessoais.
Não digo que ir contra o interesse pessoal é algo anímico ou inato – é preciso opor-se ativamente. A virtude residirá na obstinação voluntária ao afastamento das más inclinações, rejeitando a própria individualidade em favor de terceiros que, em geral, não detém tanto reconhecimento. Até que ser honesto se torne um hábito.
A virtude não apenas representa um objetivo em si, mas também é sua própria recompensa, devido ao valor que possui para as pessoas. Este valor é atribuído não pelo que a virtude proporciona, mas pelo desafio e esforço que requer para ser aplicada de forma habitual.
Conforme escrevi no documento intitulado Desonestidade, no nosso escritório temos como premissas e práticas:
Declararmos quaisquer conflitos de interesses que possam suprimir a nossa imparcialidade.
Fornecermos informações íntegras aos nossos investidores.
Não utilizarmos informações privilegiadas para ganhos pessoais ou em prejuízo de nossos clientes.
Evitarmos comportamentos pessoais que possam comprometer a nossa imparcialidade e objetividade.
Mantermos elevados padrões de comportamento ético, sendo signatários de programas de compliance.
Expurgarmos pessoas que demonstrem sinais de comportamentos antiéticos.
Sermos transparentes quanto ao comissionamento do nosso trabalho.
Apresentarmos todos os riscos envolvidos nas diferentes classes de ativos.
Evitarmos, a todo custo, práticas antiéticas ou ilegais.
Sermos responsáveis por nossas ações e pelos efeitos por elas ocasionados.
As práticas acima são reconhecidas pela instituição à qual estamos vinculados, nos concedendo o selo de “Governança e Integridade”, que reconhece os escritórios de assessoria com o mais alto nível de comprometimento com a qualidade e a ética no nosso trabalho.
Portanto, as práticas citadas nas reportagens, se comprovadas, ferem a nossa essência, mas reforçam a relevância do nosso escritório por sermos um contraponto firme e sem descanso a um sistema que prioriza o lucro pessoal de curto prazo em detrimento do comportamento ético perante os clientes.
O que posso reafirmar é que continuaremos a desenvolver uma cultura de integridade e honestidade no mercado de assessoria de investimentos, visando à preservação e evolução patrimonial dos nossos investidores e à constituição de um ecossistema que atenda aos interesses de todos os clientes.
Fonte: Investidores processam XP por prejuízos
milionários com aplicações.
Luiz Vassallo (07/02/2024)
https://www.metropoles.com/negocios/investidores-processam-xp-prejuizos