A riqueza e a prosperidade das nações têm sido objetos de estudo e debate por muitos anos. Diversos fatores foram considerados como possíveis explicações para o sucesso econômico de alguns países e o fracasso de outros. Dois dos fatores mais comumente discutidos são os recursos naturais e a geografia.
A abundância de recursos naturais, como petróleo, minerais, terras férteis e outros, é frequentemente citada como um fator que pode levar à riqueza de um país. A lógica é que países com vastos recursos naturais têm uma vantagem econômica inicial, podendo exportar esses recursos e gerar receitas significativas.
No entanto, a história e a prática demonstram que a riqueza de recursos nem sempre se traduz em prosperidade generalizada.
Na verdade, muitos países ricos em recursos enfrentam o que é conhecido como "maldição dos recursos", onde a abundância de recursos naturais pode levar a uma série de problemas, incluindo:
A geografia também é frequentemente mencionada como um fator que influencia o desenvolvimento econômico.
Por exemplo, países de grande extensão territorial, situados em climas temperados, podem ter uma vantagem agrícola, enquanto países com acesso ao mar podem se beneficiar do comércio marítimo. No entanto, a geografia por si só não é um fator decisivo para o sucesso econômico.
Há inúmeros exemplos de países com desvantagens geográficas significativas que ainda assim alcançaram prosperidade. Japão, Alemanha, Canadá e Chile estão entre os países com bom grau de desenvolvimento, mas, em termos de recursos naturais e geografia, estão em desvantagem em relação a diversos outros países, como os citados nos parágrafos anteriores.
Então, qual seria o caminho para explicar os motivos pelos quais algumas nações são prósperas enquanto outras não evoluem, mesmo estando geograficamente bem posicionadas e tendo recursos naturais abundantes?
No livro Por que as Nações Fracassam: As Origens do Poder, da Prosperidade e da Pobreza, os economistas Daron Acemoglu e James A. Robinson tentam explicar os motivos pelos quais algumas nações são prósperas enquanto outras não evoluem.
Utilizarei um exemplo do livro para caminharmos rumo à conclusão:
Coreia do Norte e Coreia do Sul
Nesse sentido, apesar de compartilharem o mesmo contexto geográfico, cultural e histórico, os dois países seguiram caminhos drasticamente diferentes desde a Guerra da Coreia. O que explica?
Os autores observam que a verdadeira chave para entender a diferença na prosperidade entre as nações está em suas instituições políticas e econômicas. Eles categorizam essas instituições em dois tipos principais: inclusivas e extrativistas.
Instituições inclusivas são aquelas que promovem uma ampla participação na economia e na política, garantindo direitos e liberdades básicas para a maioria da população. Características típicas incluem:
Um país permeado por instituições inclusivas cria um ambiente onde a inovação, o empreendedorismo e a diversificação econômica podem florescer. Isso, por sua vez, leva a um crescimento econômico sustentável e à redução da desigualdade.
Instituições extrativistas são aquelas que concentram o poder e a riqueza em um grupo pequeno, geralmente em detrimento da maioria da população. Características típicas incluem:
Essas características frequentemente levam à exploração dos recursos nacionais para benefício de poucos, sem considerar o bem-estar geral da população. Isso resulta em crescimento econômico estagnado, alto nível de desigualdade e, muitas vezes, instabilidade política.
Embora os recursos naturais e a geografia possam desempenhar papéis na economia de uma nação, são as instituições políticas e econômicas que verdadeiramente determinam o sucesso ou fracasso a longo prazo. Instituições inclusivas promovem o crescimento econômico sustentável e a justiça social, criando uma sociedade mais equilibrada e próspera. Por outro lado, instituições extrativistas concentram a riqueza e o poder, limitando o desenvolvimento e exacerbando a desigualdade. Portanto, para que uma nação alcance prosperidade duradoura, é crucial o desenvolvimento e a manutenção de instituições inclusivas.
Brasil
Diante do exposto e das ideias do livro, é possível inferir que o nosso país possui instituições com características extrativistas:
No Brasil, há uma longa história de concentração de poder político e econômico nas mãos de uma pequena elite. Desde o período colonial, o país foi estruturado de maneira a beneficiar poucos, com grandes propriedades de terra e uma economia baseada em commodities. Essa concentração de poder econômico frequentemente se traduz em influência política, criando um sistema onde as políticas públicas são, muitas vezes, desenhadas para manter o status quo e proteger os interesses de uma minoria.
A corrupção é um problema crônico no nosso país e é frequentemente citada como um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento.
A corrupção endêmica drena recursos públicos, que poderiam ser usados para investimento em infraestrutura, educação e saúde, e os direciona para interesses privados. Além disso, o nepotismo e a influência de interesses particulares sobre a política minam a confiança nas instituições.
As instituições extrativistas no Brasil criam uma barreira significativa à mobilidade social. A educação de qualidade, por exemplo, não é acessível a todos, o que perpetua um ciclo de desigualdade. A falta de acesso a oportunidades educacionais de qualidade limita a capacidade da população de participar plenamente da economia, inibindo a inovação e o empreendedorismo.
O ambiente de negócios no Brasil é complicado e burocrático, com altos custos de conformidade e regulamentações que dificultam a criação e a expansão de empresas. Além disso, a falta de proteção robusta aos direitos de propriedade e o sistema legal ineficiente podem desencorajar investimentos de longo prazo, tanto domésticos quanto estrangeiros.
O Brasil tem uma economia fortemente baseada na exportação de commodities, como soja e minério de ferro. A dependência de commodities também torna o país vulnerável a choques externos, como flutuações nos preços globais.
O Brasil é marcado por grandes desigualdades regionais, com o sudeste do país sendo muito mais desenvolvido do que o norte e o nordeste. Isso pode ser visto como um reflexo de instituições extrativistas, onde o desenvolvimento é concentrado em determinadas áreas e outras são negligenciadas.
Essa disparidade limita o desenvolvimento econômico do país como um todo e perpetua ciclos de pobreza em certas regiões.
Investindo em Empresas Brasileiras
Mesmo em países com características extrativistas, como o Brasil, onde há uma concentração de poder econômico e político, além de desafios como corrupção e burocracia, algumas empresas podem prosperar no longo prazo demonstrando capacidades em navegar nesse ambiente complexo.
Portanto, com a devida margem de segurança, ressaltamos os setores nacionais que temos predileção:
Importante ressaltar que estes setores costumam ser bons pagadores de dividendos, uma estratégia que temos predileção.
Se a intenção for investir em outros setores, é mais inteligente buscar novas fronteiras, países com instituições inclusivas e que tenham vantagens competitivas.
É claro que é possível ter casos de sucesso de outras empresas no Brasil, mas os setores mencionados ao longo do texto são um bom ponto de partida para que, em média, os portfólios que incluem renda variável brasileira tenham a possibilidade de sucesso a longo prazo.