O ano de 2024 ficará marcado como mais um período de predominância da renda fixa no Brasil, fenômeno que vem se consolidando devido a um contexto econômico que todos conhecemos, caracterizado por juros altos e deterioração de expectativas. A razão pela qual o cenário de juros elevados tem prevalecido no Brasil é multifacetada e, antes de explicar alguns dos motivos, é necessário entender o impacto dessa dinâmica nos portfólios, explorando a relação entre as taxas de juros e o valor dos ativos.
O valor de qualquer ativo - seja ele um imóvel, uma empresa ou qualquer outro bem - é sensível às taxas de juros. Isso ocorre porque o ato de investir nada mais é do que transferir recursos financeiros no presente, em troca de um fluxo de pagamentos futuros. Assim, o valor presente desses pagamentos futuros diminui à medida que os juros aumentam, dado que o investidor exige uma remuneração maior para assumir o risco do tempo. Esse fenômeno reflete a relação inversa entre a taxa de juros e o valor dos ativos.
A analogia com a gravidade ajuda a ilustrar essa dinâmica: assim como a força gravitacional age sobre um objeto, puxando-o para o solo, os juros mais altos atuam sobre os preços dos ativos, restringindo sua valorização. Quando as taxas de juros são baixas, os preços dos ativos tendem a se valorizar mais facilmente, pois a "gravidade" sobre eles é menor.
Esse efeito dos juros sobre os preços dos ativos reflete uma realidade mais ampla: as taxas de juros controlam, de forma geral, o fluxo de recursos na economia. Elas não afetam apenas os mercados financeiros, mas também impactam o custo do crédito, o comportamento do consumo e o apetite por investimentos de risco. A economia, como um todo, torna-se mais conservadora em um cenário de juros elevados, o que dificulta a imposição de um crescimento sustentável e acentua o foco no endividamento público do nosso país.
A trajetória de juros elevados no Brasil reflete a ausência de soluções definitivas para os desafios fiscais do país. A política fiscal, marcada por déficits elevados (com o déficit nominal atingindo 9% do PIB) e o crescimento da dívida pública, entra em confronto com os objetivos da política monetária, que busca controlar a inflação.
Enquanto o Banco Central se vê forçado a aumentar as taxas de juros para conter a inflação, o aumento da dívida pública alimenta as expectativas inflacionárias, prejudicando a credibilidade da política monetária. A falta de coordenação entre as duas políticas intensifica essa tensão, levando para um caminho de dominância fiscal.
Dominância fiscal resulta em um cenário econômico em que a política fiscal (os gastos do governo) domina a política monetária (controlada pelo Banco Central). Nesse contexto, as condições fiscais do governo são tão precárias que o BC perde parte ou toda a sua capacidade de controlar a inflação de forma efetiva. Por exemplo, aumentos de juros perdem eficácia e serão necessárias doses cada vez maiores deste remédio.
O recente pacote fiscal não se mostra suficiente para resolver de forma eficaz o problema da dívida. Com suas medidas graduais e impacto diluído no tempo, pode oferecer algum alívio temporário, mas não ataca os problemas estruturais da economia brasileira. A redução das despesas, projetada para começar a surtir efeito somente a partir de 2026 e o fato de o pacote ser dividido em duas fases de tramitação no Congresso trazem complexidade e abrem janelas temporais para alterações substanciais no conteúdo original das propostas. Essa incerteza, por sua vez, contribui para a manutenção de uma alta taxa de juros como a principal ferramenta de controle das expectativas dos entes econômicos com relação aos rumos da inflação no futuro.
O resultado desse cenário, caso persista, é claro: 2025 e 2026 seguirão a tendência de 2024, com a renda fixa dominando as opções de investimento. As altas taxas de juros devem continuar a ser o fator determinante para o comportamento dos investidores, afastando-os de ativos de maior risco e concentrando o capital naqueles de menor volatilidade. Além disso, a pressão sobre o orçamento público e a incerteza fiscal continuarão a restringir a capacidade de crescimento sustentável da economia, hoje turbinada pelos programas de transferência de renda.
Em suma, o ano de 2024 consolidou-se como um período em que a renda fixa exerceu forte influência sobre os portfólios nacionais. A dominância da renda fixa reflete não apenas uma preferência dos investidores por ativos de baixo risco, mas também um reflexo das dificuldades fiscais que o país enfrenta. O ajuste fiscal, embora necessário, ainda está longe de ser concluído, o que indica que o ambiente de juros elevados deve persistir nos próximos anos, limitando as opções de crescimento para a economia e mantendo os investidores focados em investir com segurança. O caminho para um cenário de juros mais baixos passa pela implementação efetiva das reformas fiscais e pela redução da pressão sobre a dívida pública, desafios que o Brasil ainda terá que enfrentar nos próximos anos.
Em algumas conversas fui indagado se o meu perfil é ser pessimista. Respondi que, na verdade, sou o oposto. Minha abordagem nos investimentos é pautada pelo entendimento profundo do ambiente em que estamos inseridos, estressando cenários para tomarmos decisões mais assertivas buscando a maior assimetria positiva identificável.
No pêndulo comportamental humano, esperança e medo são dois lados da mesma moeda, ambos vinculados à incerteza. Ao evitar o apego a qualquer um deles, consigo tomar decisões de forma mais eficiente.
Evitar erros nos aproxima ainda mais dos acertos.
Assim, meu objetivo nunca é ser alarmista, mas realista – avaliando os riscos para nos fortalecermos diante das incertezas e aproveitarmos as chances quando elas aparecerem.
2024 - Trium
O ano de 2024 foi extraordinário para a Trium Capital. Apesar dos desafios do mercado, conseguimos crescer 45% em ativos sob nossa assessoria e alcançar um índice de satisfação (NPS) superior a 97 pontos. O destaque principal foi que, no ranking interno da XP, fomos reconhecidos como o escritório que mais entrega resultados financeiros aos seus clientes.
Esses resultados são um reflexo direto de seis anos de atuação baseados na honestidade, profundo conhecimento técnico e total alinhamento com os interesses dos nossos investidores.
Cada decisão, por menor que pareça, contribuiu como juros compostos no nosso modelo de atuação, que sempre priorizou o bem maior. Acreditamos que pequenas decisões positivas, tomadas recorrentemente, criam alicerces para grandes conquistas. Nesse sentido, nosso compromisso diário em fazer o certo, mesmo nas menores escolhas, nos posicionou estrategicamente para alcançar vitórias significativas para os nossos clientes.
Esse compromisso constante, somado à confiança que nossos clientes depositam em nós, não apenas transformou 2024 em um bom ano, mas também preparou o caminho para um futuro ainda mais promissor para todos!
Boas Festas!