Com o avanço da educação financeira no Brasil, investidores de diferentes perfis compreenderam a importância de diversificar suas carteiras em vários ativos. Temos uma nova fronteira sendo desbravada por estes, à medida que se tornam cada vez mais conscientes da instabilidade político-econômica dos mercados emergentes: a alocação em moedas supostamente estáveis e com maior resiliência, as denominadas moedas fortes.
Nesse sentido, a comunicação deste mês trará conteúdo técnico para melhor compreensão sobre o tema.
O que são as moedas fortes?
Uma moeda forte refere-se a uma moeda que se valoriza em relação a outras ao longo do tempo.
Quais os principais exemplos de moedas fortes? E por quê?
Dólar Americano (USD): O dólar americano é a principal moeda de reserva do mundo, sendo utilizado no comércio e nas finanças internacionais.
Ele se beneficia da estabilidade econômica dos Estados Unidos, seu status como refúgio último e a liquidez de seu mercado financeiro.
Euro (EUR): O euro é a moeda oficial da Zona do Euro, que consiste em 19 dos 27 estados membros da União Europeia. É uma das moedas mais negociadas globalmente e é apoiado pela força econômica de países como Alemanha, França e Holanda.
Franco Suíço (CHF): O franco suíço é conhecido por sua estabilidade e muitas vezes é considerado uma moeda de refúgio durante períodos de incerteza econômica. A economia forte da Suíça, baixa inflação e políticas fiscais sólidas contribuem para a força do franco suíço.
Libra Esterlina (GBP): A libra esterlina britânica é uma das moedas mais antigas e amplamente negociadas do mundo. Apesar das flutuações causadas pela incerteza relacionada ao Brexit, a libra se beneficia do forte setor financeiro do Reino Unido, sistema político estável e influência econômica global.
Iene (JPY): O iene japonês é conhecido por sua estabilidade e baixa taxa de inflação. A grande economia do Japão, setor de tecnologia avançado e status como grande exportador contribuem para a força do iene.
Por que o real não é considerado uma moeda forte?
A moeda brasileira não é considerada forte por vários motivos:
O Brasil enfrentou significativa volatilidade econômica no passado, incluindo altas taxas de inflação, desvalorizações cambiais e períodos de recessão. Essa volatilidade diminui a confiança na estabilidade do real e o torna menos atraente para investidores em busca de moedas estáveis, como reserva de valor.
O nosso país, historicamente, luta contra altas taxas de inflação, que corroem o poder de compra do real ao longo do tempo. Embora a inflação tenha diminuído nos últimos anos, ela ainda é uma preocupação para investidores e compromete a força da moeda.
Atualmente, enfrentamos desafios fiscais persistentes, incluindo altos níveis de dívida governamental e déficits orçamentários. Esses desequilíbrios fiscais levantam preocupações sobre a capacidade do governo de gerir suas finanças de forma eficaz e podem levar ao ceticismo dos investidores sobre a estabilidade de longo prazo do real.
Outro ponto é a instabilidade política e desafios de governança nos últimos anos, incluindo escândalos de corrupção. A turbulência política reduz a confiança dos agentes do mercado.
Economicamente, o Brasil registrou déficits comerciais com frequência, sendo que estes desequilíbrios comerciais contribuíram para a desvalorização do real.
Adicionalmente, o Brasil é vulnerável a fatores externos, como mudanças nos preços das commodities, condições econômicas globais e sentimento dos investidores em relação aos mercados emergentes.
A combinação de desafios econômicos, fiscais, políticos e externos contribuem para que o real não seja considerado uma moeda forte.
No entanto, é importante observar que a força de uma determinada moeda é relativa, e o real pode ser considerado forte em relação a outras – como, por exemplo, em relação ao peso argentino.
Por que o dólar americano é a moeda forte mais demandada, tendo em vista a existência de outras?
Existem várias razões para que a moeda dos Estados Unidos seja a mais demandada por cidadãos e instituições fora do território americano, qualidades que outros países não têm ou possuem parcialmente:
O dólar dos Estados Unidos é a principal moeda de reserva do mundo, o que significa que é mantido em quantidades significativas por bancos centrais e governos em todo o planeta para apoiar o comércio e as finanças internacionais. Esse status confere ao dólar um nível de estabilidade e liquidez que é incomparável com a maioria das outras moedas.
Os Estados Unidos têm uma das maiores e mais estáveis economias do mundo.
Sua força econômica é apoiada por fatores como crescimento robusto do PIB, indústrias diversificadas, tecnologia avançada e um sistema financeiro bem desenvolvido. Os investidores veem os EUA como um porto seguro durante períodos de incerteza econômica.
O sistema político dos EUA é geralmente percebido como estável, com instituições fortes e uma longa história de governança democrática. Essa estabilidade contribui para a confiança no dólar dos EUA como uma reserva segura de valor e meio de troca.
O dólar dos Estados Unidos é a moeda mais amplamente negociada no mundo, respondendo por uma parte significativa das transações globais de câmbio diariamente. Sua alta liquidez garante que compradores e vendedores possam trocar dólares por outras moedas ou ativos sem afetar significativamente seu valor.
Muitos países mantêm ativos denominados em dólares dos Estados Unidos, como títulos do Tesouro dos EUA, como parte de suas reservas cambiais.
Esse amplo uso de ativos denominados em dólares reforça ainda mais o status da moeda como uma moeda de reserva global e contribui para sua força.
A influência militar e geopolítica dos Estados Unidos ao redor do mundo também desempenha um papel em fortalecer o dólar. Os EUA mantêm alianças e bases militares globalmente, o que pode influenciar as relações econômicas e diplomáticas e contribuir para o amplo uso do dólar em transações internacionais.
Quais são os riscos que podem tirar do dólar americano o título de principal moeda global?
Considero que o principal risco seja o problema fiscal americano. Os EUA vêm enfrentando déficits fiscais persistentes, altos níveis de dívida e desequilíbrios comerciais. Fatores que podem minar a confiança no valor de longo prazo do dólar, exercendo pressão negativa sobre a moeda.
Adicionalmente, se outras moedas, como o euro ou o yuan chinês, ganharem destaque como moedas de reserva e comércio alternativas, os bancos centrais podem diversificar suas reservas afastando-se do dólar americano.
Isso poderia reduzir a demanda por essa moeda e enfraquecer seu status como a principal reserva global.
O surgimento de moedas digitais, como o Bitcoin ou moedas digitais de bancos centrais (CBDCs), poderia desafiar a predominância de moedas fiduciárias tradicionais como o dólar americano. Embora as moedas digitais possam oferecer benefícios como eficiência e transparência, elas também representam riscos para a estabilidade e controle dos sistemas monetários existentes.
A erosão da confiança nas instituições americanas, incluindo seu sistema político, órgãos reguladores ou instituições financeiras, poderia minar a confiança no dólar. Percepções de instabilidade política, corrupção ou falhas regulatórias podem levar os investidores a buscarem alternativas mais seguras, enfraquecendo a demanda por essa moeda e deprimindo o seu valor.
Contudo, é importante ressaltar que não estamos em um momento de ruptura do dólar como moeda dominante, ainda que as ameaças existam.
Definido os conceitos de moeda forte, quais as vantagens de investir fora do Brasil?
Moedas fortes tendem a manter seu valor ao longo do tempo e são menos suscetíveis a significativas desvalorizações ou inflação. Ao investir em moedas fortes, os investidores podem preservar o poder de compra do seu patrimônio, especialmente durante períodos de incerteza econômica ou volatilidade.
Outra vantagem é relacionada à gestão de riscos. Ao deter ativos em moedas fortes, os investidores podem mitigar o risco de perdas devido à desvalorização do câmbio ao converter os retornos de volta para a moeda nacional.
Moedas fortes frequentemente estão associadas a economias estáveis e bem geridas. Investir nessas moedas oferece aos investidores um senso de estabilidade e previsibilidade, reduzindo o risco de movimentos cambiais adversos impactarem seus investimentos.
Incluir investimentos em moedas fortes diversifica uma carteira e reduz o risco geral.
Essas moedas nem sempre se movem na mesma direção que outras classes de ativos, como ações ou commodities, fornecendo um contrapeso à volatilidade da carteira e melhorando os retornos ajustados ao risco.
Detendo ativos em moedas fortes, os investidores podem ter um aumento no poder de compra em mercados internacionais. Isso permite que os investidores aproveitem oportunidades no exterior, como adquirir ativos estrangeiros ou bens e serviços a preços favoráveis.
Países que possuem moedas fortes, especialmente aquelas consideradas moedas de refúgio como o dólar americano, tendem a atrair capital durante períodos de tensões geopolíticas ou turbulência nos mercados financeiros. Essa diversificação global pode reduzir o impacto de recessões econômicas domésticas e riscos geopolíticos nas carteiras de investimento.
Em resumo, incorporar exposição a moedas fortes em uma estratégia de investimento pode aumentar a resiliência da carteira e melhorar os resultados financeiros a longo prazo.
Resumidamente, a decisão de investir em uma moeda forte dependerá de uma série de fatores, incluindo o perfil de investimento de cada pessoa, a estrutura de capital, questões familiares e outros aspectos específicos. Não existe uma abordagem única ou universalmente aplicável para todos os investidores, pois cada um tem suas próprias metas financeiras, tolerância ao risco e horizonte de investimento.
Para alguns investidores, a busca por estabilidade e preservação de capital pode favorecer a alocação em moedas fortes, considerando os benefícios da segurança, diversificação e poder de compra internacional que elas oferecem.
No entanto, outros podem ter objetivos diferentes, buscando retornos mais elevados ou exposição a mercados emergentes em busca de oportunidades de ganhos maiores. Para eles, a alocação em moedas fortes pode não ser tão relevante, e eles podem preferir diversificar em outras classes de ativos ou outras moedas que se alinhem melhor com suas metas e estratégias de investimento.
Converse com seu assessor para entender o momento e se a diversificação internacional está alinhada com os seus objetivos.