No mundo dos investimentos, existe uma crença predominante de que o sucesso depende de complexos modelos matemáticos e da busca por ganhos extraordinários, essencialmente de curto prazo. Os investidores frequentemente se veem imersos nas complexidades dos números, lutando para descobrir padrões ocultos e desvendar o segredo da criação de riqueza. Mas e se eu disser que o fator mais importante para os investidores não é ser um doutor em matemática ou economia, mas sim a capacidade de sobreviver?
A ascensão e queda da Long-Term Capital Management (LTCM) serve como um lembrete contundente da importância da sobrevivência no mundo dos investimentos. Fundada por um grupo de mentes brilhantes, incluindo laureados com o Nobel e renomados matemáticos, a LTCM deslumbrou o mundo financeiro com suas estratégias sofisticadas e modelos aparentemente infalíveis. Eles eram aclamados como gênios que haviam decifrado o código dos mercados.
No entanto, o destino da LTCM tomou um rumo inesperado. Em 1998, uma série de eventos imprevisíveis enviou ondas de choque através do sistema financeiro global. A crise da dívida russa e o colapso dos mercados asiáticos causaram estragos nas apostas altamente alavancadas da LTCM, resultando em perdas catastróficas nos fundos da gestora, em especial no fundo master “Long-Term Capital Portfolio LP”. De repente, o fundo de hedge aparentemente invencível estava à beira do colapso, ameaçando arrastar todo o sistema financeiro consigo. Foram bilhões de dólares perdidos e o patrimônio de vários investidores foi reduzido a zero.
LTCM
a LTCM foi uma gestora de hedge funds altamente alavancados, criada em 1994.
Charlie Munger
currículo ao final da Carta.
Nesse sentido, vamos a um exemplo prático:
Ao invés de nos perguntarmos como ganharemos dinheiro, vamos inverter: como podemos destruir o nosso patrimônio e perdermos o efeito dos juros compostos?
Negligenciar a perspectiva de longo prazo: focar apenas nos ganhos de curto prazo, negligenciando a importância de um horizonte de investimento longo e o poder dos juros sobre juros.
Escolher profissionais inadequados: Um profissional mal-intencionado, que preza pelos próprios objetivos em detrimento das necessidades dos clientes, pode dilapidar o patrimônio com a recomendação de produtos e estratégias ineficientes ou inadequados, por exemplo.
Ignorar a margem de segurança: investir em ativos ignorando a relação preço x valor, desconsiderando a possibilidade de ocorrerem eventos extremos.
“Girar” o patrimônio excessivamente: praticar a compra e venda excessiva de títulos ou papéis com base em flutuações de preço de curto prazo, devido a rúidos ou informações incompletas. Os custos de transação desta prática servirão para corroer os retornos.
Alavancagem: assumir dívidas para investir em ativos de alto risco ou especulativos. Um dos motivos para a quebra da LTCM foi o excesso de alavancagem.
Ausência de racionalidade: entrar em pânico e vender os ativos durante os períodos de volatilidade do mercado, motivados por medo ou ruídos de curto prazo. Não reconhecer que as flutuações do mercado são uma parte natural do ciclo de investimento.
Medo de ficar de fora: Perseguir constantemente as últimas tendências de investimento ou dicas quentes sem realizar a devida diligência. Envolvendo-se em negociações especulativas sem uma compreensão clara dos ativos subjacentes ou da tese de investimento.
Ignorar o poder pernicioso de taxas e impostos: deixar de otimizar as estratégias fiscais dos portfólios, como a utilização de ativos com isenção ou a compreensão das implicações tributárias de diferentes veículos de investimentos.
O processo mental de inverter as perguntas para obtermos respostas de um outro nível, vale para outras esferas de nossas vidas. Fizemos este mesmo exercício em relação ao nosso escritório e ao nível de satisfação dos nossos clientes. O normal seria nos questionarmos sobre como deixar os nossos clientes satisfeitos – contudo, evitar aquilo que os deixaria insatisfeitos é um excelente ponto de partida para buscarmos algo maior que a satisfação, que seria o encantamento.
Como deixar os nossos clientes insatisfeitos?
Comunicação deficiente: os clientes podem ficar insatisfeitos se houver falta de comunicação ou se o assessor de investimentos não responder prontamente às suas perguntas ou preocupações. Uma comunicação regular, clara e transparente é essencial para manter a satisfação do cliente.
Desempenho inadequado: Se os clientes perceberem que seus investimentos não estão apresentando os resultados esperados ou que não estão alcançando seus objetivos financeiros de longo prazo, dentro do perfil do investidor, eles podem ficar insatisfeitos com a assessoria. Resultados de investimento consistentemente ruins ou expectativas irreais podem minar a confiança e a segurança do cliente.
Taxas altas ou custos ocultos: os clientes podem se sentir insatisfeitos se entenderem que estão pagando taxas excessivas ou se descobrirem custos ocultos, que não foram revelados inicialmente.
Falta de personalização: cada cliente tem metas financeiras e circunstâncias únicas. Caso os assessores não compreendam ou não abordem as necessidades específicas de seus clientes, teremos margem para a insatisfação. Os clientes esperam assessoria personalizada e estratégias alinhadas com suas situações individuais.
Conduta inadequada: Qualquer forma de comportamento antiético, como conflitos de interesse, incentivos não revelados ou violações de confiança, pode rapidamente levar à insatisfação do cliente.
Serviço ou conhecimentos inadequados: Os clientes esperam um certo nível de serviço e conhecimento técnico dos assessores.
"É notável quanta vantagem de longo prazo pessoas como nós obtiveram ao tentar consistentemente não ser estúpidas, em vez de tentar ser muito inteligentes."
A origem do modelo mental da inversão, constantemente utilizada por Munger, tem inspiração no matemático alemão Carl Gustav Jacobi que, frequentemente, resolvia problemas difíceis seguindo a estratégia citada no texto invertendo as equações, a lógica e o pensamento.
Portanto, absorvamos a sabedoria de Charlie Munger e as duras lições da queda da LTCM. A nossa filosofia sempre priorizará a preservação do capital e o cultivo de uma margem de segurança. Ao fazer isso, podemos navegar pelas águas incertas dos investimentos com prudência e resiliência e, em última instância, aumentar nossas chances de não apenas sobreviver, mas
prosperar a longo prazo.
Carl Gustav Jakob Jacobi
nasceu em Potsdam em 1804.
Quem é Charlie Munger?
Charlie Munger é um investidor, empresário e filantropo americano. Ele é mais conhecido como parceiro de negócios e vice-presidente da Berkshire Hathaway, empresa liderada por Warren Buffett. Munger é uma figura influente no mundo dos investimentos e é amplamente respeitado por sua sabedoria e visão.
Nascido em 1º de janeiro de 1924, em Omaha, Nebraska, Munger estudou matemática na Universidade de Michigan e depois frequentou a Faculdade de Direito de Harvard. Ele começou sua carreira como advogado, mas logo fez a transição para a gestão de investimentos e negócios. A parceria com Warren Buffett começou na década de 1950, quando ele foi apresentado a Buffett por um amigo em comum. Os dois formaram uma forte aliança, com Munger atuando como conselheiro confiável de Buffett e ajudando a moldar a filosofia de investimento da Berkshire Hathaway.
Conhecido por sua abordagem multidisciplinar, Munger enfatiza a importância do pensamento racional, da aprendizagem ao longo da vida e do desenvolvimento de modelos mentais a partir de diferentes disciplinas para tomar decisões de investimento sólidas. Munger também é reconhecido por suas contribuições para a psicologia e para as finanças comportamentais. Ele destacou a influência dos vieses cognitivos na tomada de decisões e a importância de evitar armadilhas comuns nos investimentos.