Investir é o ato de comprar ativos que tenham o potencial de aumentar de valor ao longo do tempo, proporcionando retornos na forma de dividendos ou ganhos de capital. Todavia, para grande parte dos investidores, a expressão "ao longo do tempo" significa o mais rápido possível.
Contaminados pelos modismos do mercado, desejam ter ganhos exponenciais, significando a palavra exponencial como aquilo que é rápido e intenso. O que, no meu entendimento, é uma interpretação equivocada quando o vocábulo está inserido no mundo dos investimentos.
A característica mais importante de uma função exponencial é o aparecimento da principal variável no expoente, sendo que a mais importante para o mercado financeiro são os juros compostos. Nela, a variável citada é o tempo, pois o valor dos juros gerados pela aplicação depende do tempo em que ela é aplicada, conforme a fórmula geral abaixo:
Em que (M) é o valor final do patrimônio acumulado, a ser determinado multiplicando o valor inicial investido (C) pela soma de um mais a taxa de juros (i), elevada ao número de períodos (t) decorridos da data do início do investimento.
Assim, a composição pelos juros é o processo no qual os ganhos de um ativo são reinvestidos para gerar ganhos adicionais ao longo do tempo, e quanto maior o horizonte de tempo maior será o volume adquirido. Esse crescimento ao longo do tempo (e não “o mais rápido possível”) será exponencial porque o investimento gerará ganhos tanto do principal investido quanto dos ganhos acumulados dos períodos anteriores. Portanto, é o tempo (t) a variável que mais premia os investidores!
No limite, a rentabilidade média de um portfólio (i) será definida pelo conjunto dos ativos que foram escolhidos para a carteira de investimentos, e esse processo de seleção dos ativos é que determinará a sustentabilidade dos resultados e o sucesso da capitalização ao longo do tempo. Na Carta Margem de Segurança, de fevereiro deste ano, trouxemos vários pontos técnicos que podem auxiliar positivamente outros profissionais e os investidores na busca por bons investimentos, contribuindo para a função exponencial gerar os resultados desejados.
Neste momento, apresento um ponto que pode interferir negativamente na rentabilidade média (i) ao longo do tempo e prejudicar a formação de patrimônio, conforme a função citada no texto: o conflito de interesses ou a falta de alinhamento dos profissionais escolhidos para colaborarem com o processo decisório dos investidores.
Em resumo, dentro da função exponencial, quanto maior a taxa (i), mais rápida será acumulação de capital. E, ao recebermos investidores de diferentes instituições em nosso escritório, notamos uma deterioração desta rentabilidade média devido à escolha de produtos que apresentam péssima relação custo x risco x retorno, e por excesso de giro (compras e vendas) de papéis dentro do portfólio. Nesse sentido, posso afirmar que prefiro um assessor de investimentos com um conhecimento técnico dentro da média do mercado, mas que seja alinhado com os meus objetivos – do que um profissional que talvez possua muito conteúdo técnico, mas que preza exclusivamente pela própria remuneração ao final do mês.
Esta falta de alinhamento é um dos principais detratores do crescimento exponencial do patrimônio, já que reduz a taxa média de retorno dos portfólios. Fiquemos atentos!
Colacionando o tema Margem de Segurança, Longo Prazo e Exponencialidade, cito um estudo simples feito pelo estrategista-chefe da XP Investimentos, Fernando Ferreira, disponível na página de conteúdos da XP
* Próximos 18 meses: 72% das vezes
* Próximos 24 meses: 78% das vezes
Ou seja, mesmo quando o índice continuou em queda após um drawdown inicial de 20%, para o investidor de longo prazo, os retornos foram positivos em um horizonte maior de tempo.Para o Brasil, a frequência de retornos positivos após uma queda de 20% foi menor do que nos EUA:
DRAWDOWN
é a medida da queda do valor de um ativo em relação à sua cotação histórica máxima.
* Próximos 12 meses: 35% das vezes
* Próximos 18 meses: 42% das vezes
* Próximos 24 meses: 49% das vezes
Apesar da frequência menor do que no mercado americano, olhando para o potencial de retorno, vemos que o Ibovespa, historicamente, entregou retornos mais interessantes do que o S&P 500 depois de atingir um vale.
P/L
o índice P/L (preço sobre lucro) indica se um ativo está “caro” ou “barato”, relacionando o valor de mercado com os lucros apresentados ou projetado para determinado ativo – quanto maior o P/L, mais “cara” está a ação.
Para reflexão, através do estudo acima, é possível notar que a probabilidade de termos maiores retornos ao longo do tempo é estatisticamente crescente na medida em que (a) o desconto nos mercados ocorre e em que (b) investimos em ativos com maior margem de segurança.