Em maio, concedi uma entrevista ao Jornal O Tempo, um importante veículo de comunicação de Minas Gerais. Para aqueles que não tiveram a chance de acompanhar, compartilho aqui algumas das minhas respostas, com comentários adicionais que complementam o diálogo.
A Trium foi constituída há pouco mais de 5 anos e, nesse período, que vivemos tantos momentos assimétricos, como a empresa evoluiu?
— Evoluímos da forma como esperávamos tendo em vista os princípios em que acreditamos. Mesmo com tantas assimetrias negativas e a extrema incerteza presente ao longo de todo este período, registramos crescimento contínuo, em linha com a nossa missão de preservar e, mais importante, expandir o patrimônio de nossos clientes de maneira gradual, sólida e confiável. Éramos quatro sócios na inauguração do escritório, com uma confiança inabalável que elevaríamos o patamar da assessoria de investimentos, trazendo conceitos e uma filosofia de investimentos divergente do mainstream, pautado pela pura e simples distribuição de produtos. Atualmente, a Trium é constituída por 16 pessoas, que administram diretamente mais de 1 bilhão de reais.
Todos regidos por princípios empresariais bem definidos e uma filosofia de investimentos testada ao longo destes anos, com a mesma convicção e energia que tínhamos em 2018.
Dentro destes momentos conturbados pelos quais passamos nos últimos anos, qual aquele que mais gerou desafios para o escritório?
— Sem dúvidas a pandemia, que eclodiu um ano após a nossa inauguração. Foram algumas noites sem dormir tentando entender tudo o que estava acontecendo, com preocupação e ansiedade, já que era algo que nunca havíamos vivido. Em resumo, eu me recordo de dizer aos meus sócios que jamais conseguiríamos prever os efeitos primários e secundários daquela situação e que necessitávamos nos concentrar nas coisas que realmente poderíamos ter algum tipo de controle. Nesse sentido, definimos que aumentaríamos o contato com os nossos clientes, que estavam tão ou mais preocupados do que a gente, melhoraríamos os nossos processos internos e estudaríamos ainda mais.
Portanto, apoiados pelos nossos princípios, conseguimos preservar o patrimônio dos nossos investidores e prosperar enquanto empresa, apesar de tudo o que estava ocorrendo em nosso entorno e em todo o mundo.
O escritório utiliza a plataforma da XP para prestar assessoria para os investidores. Como é esta relação?
— É uma relação altamente profissional e que, até então, é benéfica para os investidores, para o escritório e para a própria XP. A Trium valoriza a liberdade de aplicar sua própria filosofia de investimentos e princípios empresariais de forma independente, ao mesmo tempo em que conta com um parceiro estratégico que nos permite crescer como empresa.
Vocês possuem metas de vendas de produtos com a XP Investimentos?
— Definitivamente não. O nosso contrato não versa sobre metas de distribuição de produtos e não permitiríamos, já que este fator vai contra os nossos princípios e prejudicaria o pleno funcionamento da nossa filosofia de investimentos.
Todos os escritórios vinculados à XP possuem termos contratuais que permitam independência semelhante à do seu escritório?
— Cada escritório tem liberdade para estabelecer seus próprios termos com a XP, dentro do perfil empresarial que possuem e, portanto, não existe um padrão e não posso garantir que todas as outras casas tenham independência semelhante à da Trium.
Nas respostas anteriores você citou algumas vezes que os princípios empresariais e a filosofia do escritório foram essenciais para que chegassem até aqui. Quais os principais pontos de ambos?
— Para não me prolongar, o princípio empresarial que mais nos define é a integridade. Temos o compromisso de que as relações com todos os clientes e investidores serão guiadas pela virtude, gerando relações de confiança, com coerência entre o nosso discurso e aquilo que praticamos, sob todas as circunstâncias. Dentro da filosofia de investimentos, considero que a Margem de Segurança é o ponto central sendo um conceito que absorvi de um investidor em empresas americano chamado Benjamin Graham e que busco aplicar sob diferentes aspectos para diminuição do risco nos portfólios. Em conceito amplo, a margem de segurança é alcançada quando investimos em ativos que estão com preços suficientemente abaixo do que realmente valem para que, caso não estejamos certos em uma recomendação ou evento altamente inesperado ocorra (como foi a pandemia), em um ambiente em rápida transformação como o que vivemos, os investidores não tenham perdas irrecuperáveis. Em nosso site, www.triumcapital.com.br, temos todos estes temas desdobrados através de artigos e cartas.
Quanto maior o risco maior a probabilidade de termos melhores rendimentos?
— Contrariamente, não considero que quanto maior o risco maior a probabilidade de altos rendimentos. Em minha visão, investir com baixo risco é que nos leva a altos retornos e por isso defendo o conceito de margem de segurança. Ele é a melhor forma de diminuirmos a probabilidade de adquirirmos ativos que serão os perdedores de um portfólio nos próximos dias, meses e anos e deixarmos os ativos vencedores fazerem a parte deles. Evitar riscos desnecessários e adotar uma visão de longo prazo é um caminho que possibilita entregarmos retornos consistentes e, frequentemente, superiores à média do mercado para cada perfil de investidor.
Além de não investir com margem de segurança, o que leva os investidores a perderem dinheiro e que poderia ser evitado?
— No escritório, recebemos, provenientes de outras instituições, muitos casos de insucesso de investidores. Excetuando as perdas por condições temporárias de mercado, vários perdem dinheiro por excesso de giro do portfólio incorrendo em altos custos tributários e altos valores em corretagens, por alocações em produtos com baixa probabilidade de retornos e altos custos, pagando altas taxas de administração para profissionais do mercado sem o respectivo retorno financeiro e por falta de capacidade técnica do profissional escolhido. Todo o exposto poderia ser evitado.
Falando um pouco mais sobre margem de segurança e relacionando o conceito com a gestão de sua empresa. Em qual quesito, pode ser mais do que um, você acredita possuir uma margem de segurança baixa ou quem sabe uma fraqueza?
— Temos um ponto sensível em comum com outras companhias que é a atração e retenção de pessoas. Existe uma visão de que é fácil ganhar dinheiro no mercado financeiro, no curtíssimo prazo, impulsionada pelos filmes sobre Wall Street e pelos costumes da Faria Lima e, quando demonstro que o nosso escritório trabalha em uma frequência diferente do senso comum, perco 90% dos candidatos. O ponto importante é que estamos trabalhando para aumentarmos a nossa margem de segurança, formando tecnicamente as pessoas que possuem as virtudes necessárias para atuarem na Trium, já que um dos alicerces para a nossa longevidade é que todos os sócios compartilhem a mesma filosofia de investimentos e os mesmos valores fundamentais.
Trazendo a nossa pauta para o cenário e o mercado financeiro, enquanto diretor de investimentos da Trium, quais as previsões macroeconômicas para o Brasil e para o mundo?
— Não acredito em futurologia e tenho convicção que qualquer previsão acima de 12 meses tende a ter um grau de falibilidade alto. São tantas as variáveis macroeconômicas - emprego, inflação, juros, dívida pública, produtividade, balança comercial... - que considero inviável a criação de modelos econômicos que consigam aglutinar todos estes parâmetros, adicionados ao comportamento humano, e entregarem previsões que sejam minimamente úteis. Nos últimos anos, os analistas do mercado erraram várias previsões como a taxa Selic, a inflação, a recuperação da economia pós pandemia, o boom do mercado de ações global entre outros. Se tivéssemos seguido todas estas previsões os portfólios estariam enfrentando fortes assimetrias negativas neste momento.
Contudo, se é difícil prevermos o futuro é de extrema importância entendermos onde estamos e vejo um ambiente de juros estruturais globais mais altos, pressionados por vários temas, funcionando como uma âncora para a nossa Selic, impedindo quedas mais expressivas a curto prazo.
Quais seriam estes temas que fazem com que os juros no Brasil e no mundo tenham perspectiva de se manterem mais altos do que anteriormente?
— Em síntese, fatores como o nearshoring que é a realocação da produção para mais perto dos mercados-destino ocasionando aumento dos custos de produção devido a salários mais altos e regulamentações mais rígidas em comparação com os países onde a produção era anteriormente localizada e o desejo dos Bancos Centrais de afastarem outra espiral inflacionária e terem espaço suficiente para cortarem as taxas de juros em caso de recessão econômica, colaboram para a sustentação das taxas de juros globais em patamares mais altos, comparados aos últimos 30 anos. Já no Brasil temos sempre o risco fiscal como uma sombra ao nosso desenvolvimento.
E como investir em um cenário como o descrito?
— Dependerá do perfil de cada investidor e da margem de segurança que encontrarmos em cada classe de ativo, mas diria que uma base forte em ativos pós fixados (vinculados ao CDI) e um bom percentual em ativos que entregam o índice inflacionário mais uma taxa de juros fixa (vencimentos intermediários) é um ponto de partida adequado.
Com relação a outras classes de ativos tenho a seguinte visão:
Renda fixa prefixada: possível alocar com boa margem de segurança em papéis de vencimentos de até 2 anos e rentabilidade superior à da nossa atual Selic.
Multimercados: estão com retornos abaixo da média histórica há mais de 3 anos sendo que grande parte deles, através de estudo que fizemos, só entregam resultados em momentos de movimentações de curvas de juros. Nesse sentido, considerando o atual patamar da renda fixa, não vejo como atrativas alocações adicionais nesta classe sem que seja feita uma análise muito criteriosa das casas e suas estratégias de geração de valor.
Fundos imobiliários: devido ao momento do ciclo de juros brasileiro é possível investir em alguns papéis desta classe com boa margem de segurança.
Ações: somente com margem de segurança, para que não fiquemos tão dependentes do cenário macro brasileiro e global que, por natureza, é incerto.
Para informações mais detalhadas, peço que entre em contato com o assessor.
Entrando na reta final da nossa entrevista, quais serão os próximos passos da Trium?
— Além do nosso negócio principal, que é a preservação e evolução dos patrimônios dos nossos clientes, somos uma empresa de serviços e, nesse sentido, a Trium trabalhará muito para consolidar outras áreas importantes, que colaboram para que cumpramos a nossa missão e atendamos os nossos investidores, pessoas-físicas e jurídicas na integralidade: gestão de fluxo de caixa, planejamento sucessório, proteção patrimonial, investimentos internacionais e câmbio.
Gostaria de deixar uma mensagem final para aqueles que de alguma forma gostariam de empreender?
— Gostaria de passar um pouco sobre o que aprendi neste período e dizer que construir uma empresa leva tempo, especialmente se o objetivo é criar algo íntegro e durável. O empreendedor enfrentará dificuldades homéricas e constantemente questionará se todo o esforço de ir contra a corrente vale a pena. No entanto, se o foco da empresa for integralmente nos interesses dos clientes e se os sócios permanecerem concentrados e com alta disposição a fazer o certo, a cada ano que passar.
E para os investidores?
— Tendo em vista o tempo que estou no mercado financeiro, afirmo que para um investidor ter um mínimo de sucesso é necessário que ele adote uma filosofia de investimentos adequada às suas características pessoais e persista nela mesmo sob alguma pressão de curto prazo. Ninguém acertará todos os movimentos e nenhum profissional do mercado conseguirá prever o futuro. As nossas probabilidades de sucesso aumentam quando temos consciência disso e nos limitamos ao nosso círculo de competência.
Nestes mais de 5 anos, agradeço a confiança de todos os investidores e reafirmo o nosso compromisso de alinhamento integral com os objetivos dos atuais e futuros clientes da Trium.